sexta-feira, outubro 08, 2010

Uma Mente Tempestuosa

Claramente e indubitavelmente aborrecido. Tudo me parecia enfadonho e entediante: desde a pureza do campo até ao reboliço incessante da vida urbana. Mas afinal que queria eu? Que desejos profundos teria o meu complexo ser (visto que nunca os conseguia realizar)? No entanto, só hoje me deu conta de algo…

… Decidi finalmente ir à praia (aquele lugar repugnante, repleto de indivíduos vindos sabe se lá de onde e de sedimentos de pequenas dimensões que muito teimam em se enfiar em locais pouco desejáveis). Enfim! Tenho eu as minhas razões para não pôr lá os pés.

Contudo, chegando lá, um aperto invadiu o meu espírito. “Que seria isto? Que sensação de nostalgia tão estranha… Sei que nunca estive aqui… SERÁ? Não será que nas profundezas do meu subconsciente, tal lugar seria familiar? Não. Não creio. Mesmo assim…”                         
                                                                                                               

No meio das minhas divagações, um velho pescador por mim passava. Perguntei-lhe se sabia se “ a praia” tinha nome (é que este povo tem a mania de arranjar alcunhas para tudo e mais alguma coisa): “Tem sim, meu rapaz. Esta aqui à sua frente é conhecida por “Praia das Sereias” e aquela ali mais adiante por “Praia da Baía””.

“Mas que nomes mais desprezíveis!”, pensava eu, enquanto ouvia o velho a balbuciar as suas “histórias” (aquele tipo de contos que são fruto da loucura que tanto tempo no profundo azul causa). Sinceramente… Não tenho pachorra.

De repente, algo captara a minha atenção: no meio da imensidão ciano, avistei um amontoado de rochas. Não. Obviamente não seria o material geológico que me agradara, mas sim o que sobre ele se encontrava: algo resplandecente e…  mágico ?! “Devo estar a endoidecer, sem margem para dúvidas.” Mesmo assim, recusando toda a minha racionalidade parti em direcção ao fascinante desconhecido.

“Ah!” Ao aproximar-me entendi! Tratava-se de uma mulher, mas não era de todo uma vulgar: os seus cabelos e pele caiados de um tom angelical conferiam-lhe um ar divino. Não resisti. Invadido pela curiosidade aproximei-me. “Desculpe?”, perguntei atrapalhadamente.

Instintivamente e inconscientemente, toquei-lhe no ombro: o seu corpo estava gélido, quase como se deste a vida tivesse desvanecido. Um arrepio percorreu-me e o que no início era curiosidade, no próximo momento se tornara pavor.

Virando-se lentamente, a estranha figura murmurava algo incompreensível. “Desculpe, não entendi o que disse…” O resto da oração ficara entalada na minha garganta. Os seus dedos gelados apertavam-me agressivamente o pescoço. Não lhe vi a cara. Tive medo. Quis gritar; pedir ajuda. “Onde está agora aquele idiota do pescador?...”

De repente, o monstro largara-me, atirando-me para as ondas tempestuosas que se aproximavam. A pouco e pouco, a minha mente tinha-se tornado branca e… “TRIMMMM!”

…“AH!” Levantei-me abruptamente da cama com o som do despertador. “Não acredito! Foi só um daqueles pesadelos estranhos!” Suspirando com alívio fui-me começando a preparar para mais um dia entediante da minha vida enquanto estudante do 12º ano. “Mas que dia da semana é hoje… quinta-feira, hein?!...”

Não podia crer… Hoje tinha uma pequena “saída de campo”, durante a aula de Geologia, e, onde iria eu? Nem mais: à praia… O local que eu mais temo… a ele, ao pescador e… à criatura dos infernos que, nos dias de tempestade, assombra as mentes mais corrompidas…

                                                      
                                                                                            Francisca Mesquita

1 comentários:

Mariana Canoso disse...

O texto está bonito, mas o desenho, de longe, faz-lhe sombra :)

Parabéns Francisca!

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